“Compliance é burocracia”; “Compliance vai atrapalhar as vendas”; “Compliance só existe para complicar a minha vida”; “Compliance está dissociado dos negócios”; “Compliance é só uma onda”.
Se tais frases são proferidas por funcionários de organizações sem um sistema de Compliance, melhor ignorá-las. Eu não perderia o meu tempo perguntando a opinião do meu jardineiro sobre a melhor forma de tratar as questões Antitruste numa multinacional. Da mesma maneira, sugiro ao meu jardineiro não perder o seu tempo com a minha opinião sobre como fazer os meus podocarpos ficarem mais verdes!
Então, assumindo as citações iniciais vindas de instituições com um Mecanismo Integridade implementado, tal reação é a prova irrefutável da falta de efetividade desse sistema e, quase sempre, ocorre por conta de apenas duas opções:
- quem fala isso o faz com o propósito de desmoralizar o Compliance, por ter interesses divergentes e estar incomodado com a linha correta assumida pela sua organização; OU
- o Compliance na organização está errado, logo, está gerando sentimentos verdadeiros em pessoas bem-intencionadas.
Na primeira alternativa, a sugestão para o Compliance Officer é preparar o seu CV e buscar uma empresa interessada, de fato, em apoiar a cultura da ética e integridade. Supõe-se, aqui, ele já ter feito o seu trabalho de educação e sensibilização, mostrado os caminhos corretos e colocado o seu sistema em prol da organização para ajudá-la a alcançar os seus objetivos, sempre alinhados com bons princípios. Se, mesmo assim, a visão dos funcionários continua no sentido oposto, fácil afirmar haver desinteresse no Compliance e, portanto, continuar insistindo seria “dar murro em ponta de faca”
Na segunda, a sugestão vai para o presidente: troque o seu Compliance Officer de imediato, pois ele está “matando” a sua companhia.
Porém, os pseudoespecialistas parecem proliferar! No entanto, o problema maior não está nessa constatação em si, pois, ninguém nasceu sabendo. O interessado em aprender, estudar, mirar exemplos dos mais experientes, seguir boas práticas, entre outras providências salutares, terá toda a chance de se aprimorar e dar contribuições valiosas para o Compliance na sua instituição.
Infelizmente, na maior parte das vezes, tais profissionais chegam com a soberba de se julgarem conhecedores do assunto com profundidade, a ponto de impor a sua ideia, manter-se resoluto nas suas convicções e permanecer atrás da sua mesa, no escritório com ar-condicionado.
Academia e teoria são necessárias… mas, a falta da experiência prática tem se revelado a maior inimiga do Compliance, implicando em consequências desastrosas para as instituições e, em muitos casos, feito do Compliance um vilão, quando na verdade, ele deveria ser visto sempre como um grande aliado.
O efeito “Dunning Krügger” aplica-se aqui com precisão: “a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento”. Ou seja, sem saber que não sabe, essas pessoas seguem as cartilhas aprendidas com superficialidade e aplicam seus conceitos de qualquer modo, sem entender o todo, sem prever as consequências e, por óbvio, sem prover efetividade para o seu sistema. O efeito é o esperado: falta de apoio geral e a perpetuação, na empresa, do status quo anterior à implementação do seu famigerado Mecanismo de Integridade.
Com regularidade, encontram-se Compliance Officers posando-se de experts, espalhando pelas redes sociais ou falando em público sobre suas mazelas e jogando a culpa da sua realidade na dificuldade natural de se obter sucesso nessa área.
Forçoso admitir, entretanto, haver desafios de toda natureza na implementação e na preservação de um Mecanismo de Integridade efetivo em qualquer organização. Todavia, os obstáculos existem e são vencidos com esforço, perseverança, austeridade, mas, sobretudo, com sabedoria, generosidade e sensibilidade, como se observa em diversas empresas onde o Compliance, de fato, prosperou. E a combinação do emprego dessas qualidades é uma atribuição do Compliance Officer que, sem a experiência devida, terá a probabilidade de sucesso bastante reduzida.
Um Mecanismo de Integridade efetivo gera confiança entre os funcionários, um ambiente propício para o diálogo e um clima de cooperação, onde as pessoas buscam soluções, em vez de ficarem lamuriando pelos corredores. O Compliance estabelece regras para o bem geral e isso é, com facilidade, entendido pelas pessoas ávidas de estarem numa empresa limpa, ética, transparente e que valoriza seus trabalhos.
Para a pequena parcela contrária a essa ideia de integridade corporativa, de certo, os instrumentos internos farão o seu papel, mais cedo ou mais tarde. Os controles, as auditorias e, principalmente, o Canal de Denúncias e as devidas investigações farão emergir as verdades para a organização corrigir os seus rumos e, se for o caso, aplicar os corretivos necessários.
Assim, considerar o Compliance vilão ou solução é uma prerrogativa da Alta Direção da companhia. Caberá aos seus membros aplicarem com precisão o Tone at the Top em favor da ética e, dessa forma, fazer prosperar o Mecanismo de Integridade com efetividade ou trocar o seu comandante, caso o sistema esteja falhando em trazer os benefícios esperados. Somente desse modo, o Compliance será uma solução!
Wagner Giovanini é especialista em Compliance e sócio-diretor da Compliance Total e Contato Seguro. Autor do livro “Compliance – a excelência na prática”, desenvolveu a Compliance Station®, plataforma inovadora para a implementação e execução do Compliance em micro e pequenas empresas. Para mais informações e conteúdos sobre o tema, acesse www.compliancetotal.com.br e https://www.linkedin.com/company/9299759/ .