Ao contrário do senso comum, o Compliance não é um “puxadinho” do Jurídico ou um pacote de regras para os funcionários cumprirem indiscriminadamente.
O Compliance tem a ver com as pessoas! Por isso, sua relação com o RH é peça essencial para ele produzir os efeitos benéficos para uma organização.
O Compliance surgiu no ambiente corporativo como a principal ferramenta de gestão para combater ilicitudes, desvios de conduta e outras irregularidades, como por exemplo, corrupção, suborno, assédio, fraudes, furtos, etc.
O Compliance está implementado nas empresas que desejem criar uma cultura de integridade, para estabelecer ambientes de trabalho saudáveis e obter vantagem competitiva no mercado.
Já a área de RH é estruturada para atender a questões específicas do ser humano, como funcionário da empresa: é preciso ter pessoal preparado para atrair e reter colaboradores, treiná-los, pensar em seus planos de carreira, acompanhar todo o processo entre a entrada e a saída de um colaborador, além de cumprir todas os requisitos da legislação trabalhista vigente.
Assim, o RH não é apenas uma área para tratar de férias e salário, mas sim, um departamento que cuida da gestão de pessoas — que significa mobilizar recursos para atingir maior coesão, produtividade e satisfação num grupo de colaboradores, conciliando, dessa maneira, os objetivos das pessoas com os objetivos da organização.
Agora, vamos ver como essas duas áreas se relacionam e como uma pode contribuir com a outra.
Boa leitura!
Definição de Compliance
Segundo Wagner Giovanini, o Compliance é uma cultura organizacional que, até pouco tempo atrás, era privilégio das grandes organizações e corporações.
Como cultura organizacional, podemos entendê-lo então como a forma que uma organização se constitui e se adapta com relação a valores, normas, processos e negócios.
Hoje, com a entrada da tecnologia digital, essa cultura tornou-se acessível para todas as empresas, que podem dispor desse mecanismo que sustenta o agir correto de todos os colaboradores numa instituição.
Para o autor, o Compliance compõe-se de vários elementos. Então, se estamos falando em Compliance, podemos trazer à mente pessoas, práticas, processos, ferramentas, estruturas, documentos, etc.
O Compliance conecta harmonicamente todos esses elementos, sendo sustentado por três pilares: a prevenção, a detecção e a correção.
O objetivo dessa estratégia é abordar irregularidades, ilicitudes e desvios de conduta, preferencialmente de forma preventiva, ao trabalhar com os valores que devem ser postos em prática, para que as irregularidades nem cheguem a ocorrer.
Por outro lado, também tem uma forma de atividade reativa, que lida com essas ocorrências caso elas aconteçam.
Mas, e o RH? Onde a área de Recursos Humanos se encaixa nisso que estamos entendendo como um tipo de cultura organizacional, que lida com pessoas, processos e ferramentas?
Qual é a diferença entre essas duas terminologias?
Definição de Recursos Humanos
O RH de uma organização pode ser entendido, como o nome deixa claro, como as pessoas de uma organização — seus recursos humanos.
Se estamos falando de RH, o entendimento mais resumido seria este: essa área trata, em geral, do “ciclo de vida” do colaborador numa instituição — recrutamento, seleção, contratação, onboarding, avaliação de desempenho, feedback, definições de cargos e salários, promoções, mediação de conflito, rescisões e entrevistas de desligamento.
Entretanto, e como é comum nos modelos de organização mais atuais, nenhuma área está isolada e limitada em seus processos: o RH também se aproxima muito da área de gestão e trata muito de perto daquilo que damos o nome de cultura organizacional.
Assim, o RH configura-se como um esteio para os colaboradores cumprirem de forma exitosa suas missões e, ao mesmo tempo, seguirem os princípios da empresa em tudo que fazem, como agir com ética e integridade.
Por isso, para ser uma área que agrega valor de verdade, o RH precisa entender as necessidades dos funcionários, suprir suas demandas e estabelecer uma relação de confiança e de colaboração entre as pessoas, dos mais variados níveis hierárquicos e de diferentes departamentos.
Cabe, então, ao RH estimular as pessoas para o perfeito alinhamento dos seus desejos e expectativas com as necessidades da organização, pois, somente desse modo, haverá perfeita harmonia no dia a dia.
Interseções entre as duas áreas
Nesse contexto, Compliance e RH partilham dos mesmos propósitos, usando meios diferentes para alcançá-los: ambos contribuem para o alcance dos objetivos globais da empresa, contando com a melhoria do ambiente organizacional, o aumento da produtividade, o bem-agir dos colaboradores, entre outros.
O Compliance estabelece diretrizes claras e dá condições plausíveis para o seu devido cumprimento. Mas, quem faz o Compliance na prática são os indivíduos.
Daí, uma conclusão óbvia: o Compliance deve ser feito para as pessoas! Deve ser humanizado! Do contrário, vai se limitar a um conjunto de regras, a ações policialescas, intimidadoras ou arrogantes e, dessa maneira, seu futuro estará comprometido, ou seja, o fracasso não tardará.
Com isso, essas duas áreas devem trabalhar de mãos dadas, uma ajudando a outra. A colaboração deve ser a tônica do cotidiano e o alinhamento de suas atividades, tarefas e metas facilitará o sucesso de todos.
Diversas são as situações ilustrativas que podem ratificar esse entendimento. Vejamos algumas:
O Compliance tem como documento base o Código de Conduta. E, como todos sabem, o seu conteúdo está intimamente ligado às questões de RH, pois são as pessoas que devem agir de acordo com esses preceitos, enquanto funcionários da empresa. O mesmo vale para as políticas e procedimentos.
O Compliance também depende da sensibilização das pessoas e, para isso, usa de recursos como treinamento, comunicação e campanhas educacionais. O RH detém o conhecimento dos dados e perfis dos funcionários, podendo assim, contribuir na seleção dos públicos-alvos, logística, convites e gestão dos treinamentos e capacitação, pois, além do Compliance, há outros diversos temas de interesse da empresa, cuja responsabilidade recai sobre o RH.
Um outro exemplo refere-se ao processo de seleção. Um dos requisitos básicos para contratação, advindo do Compliance, é a busca por profissionais éticos, íntegros, probos e honestos. Desse modo, tais requisitos unem-se à experiência, conhecimentos técnicos e outras questões importantes ao perfil das pessoas, que normalmente já são abordados pelo RH.
No tratamento das denúncias, investigação e definição das medidas disciplinares, o pessoal de Compliance deve estar atento às exigências de RH, tanto legais quanto culturais da organização.
No âmbito das atividades, processos e tarefas, diversos outros exemplos poderiam ser dados. No entanto, na esfera dos propósitos, vale citar dois fatores, perfeitamente alinhados, dentre vários existentes na prática, para essas duas áreas trabalharem em conjunto:
- Busca da satisfação dos funcionários, não apenas para melhoria do ambiente no trabalho e da produtividade, mas também para o cumprimento das diretrizes da cultura organizacional.
- Atração e retenção dos melhores profissionais. Essa é uma meta constante do RH e, ao mesmo tempo, uma consequência de um Compliance bem estruturado.
Benefícios de uma relação sólida entre Compliance e Recursos Humanos
A consequência desse trabalho uníssono é uma empresa sadia, livre de irregularidades, desvios de conduta ou ilicitudes.
Se, porventura, um caso negativo pontual ocorrer, RH e Compliance terão ferramentas prontas para identificar e agir rapidamente na correção, sem delongas!
Nessa condição, líderes e liderados estarão atuando num sentido único, com interesses comuns e alinhamento com os princípios da empresa.
Não há de se esperar outro resultado a não ser o sucesso, pois, no curto espaço de tempo, o mercado verá essa empresa como um verdadeiro exemplo, a sua imagem será valorizada e a marca fortalecida.
Aumentam-se, dessa forma, as chances de novos negócios, crescimento e lucratividade. Geram-se vantagens competitivas e o valor da organização crescerá!
Portanto, um Compliance só será efetivo se tiver as pessoas do seu lado e o RH só alcançará, de fato, seus objetivos, se houver um Compliance dando a devida sustentação para a perpetuação da cultura da ética e integridade.
Ao atingir esse patamar de relacionamento, temos um Compliance e RH cumprindo bem suas missões fundamentais e principalmente, focados no business.
Conclusão
Compliance e RH são parceiros na criação do sucesso da empresa em vários âmbitos.
Essa relação deve ser incentivada e fomentada, tornando constante o contato entre os dois e permitindo que essa colaboração gere bons frutos, como citados ao longo deste artigo.